domingo, 10 de maio de 2015

Se a maternidade for a escolha, que as condições sejam garantidas.


Uma das grandes pressões que as mulheres sofrem é a de serem mães. Dão-nos bonecas desde a mais tenra idade e crescemos ouvindo que ser mãe é algo que nos completa, que dá razão às nossas vidas. Que temos instinto materno, pois isso faria parte da nossa natureza. Essa é uma ideologia profundamente arraigada e por séculos reproduzida. A capacidade biológica de gerar filhos é entendida como algo que resume a nossa existência e é transformada em conduta social obrigatória. Essa ideia, da maternidade compulsória, é uma forma de opressão às mulheres.
Nem toda mulher sonha em ser mãe. A maternidade não pode ser encarada como uma obrigação e sim como um direito. Assim como deve ser direito das mulheres terem liberdade sobre seu corpo e suas vidas. De escolherem serem mães ou não. Infelizmente no nosso país ainda estamos bem distantes de uma realidade onde as mulheres possam ter essa liberdade e esse direito garantido. Por um lado não nos é dado o direito de escolher interromper uma gravidez indesejada e por outro lado quando optamos por termos um filho, não nos são dadas condições para exercer a maternidade.
O direito de escolha e a liberdade de decidir ser mãe ou não
Ainda é uma realidade para muitas mulheres a falta de conhecimento sobre o próprio corpo e acesso a consultas ginecológicas e métodos anticoncepcionais de forma gratuita. Muitas iniciam a sua vida sexual sem nenhuma orientação sobre como evitar uma gravidez indesejada ou doenças sexualmente transmissíveis. E mesmo para as mulheres que têm acesso à tudo isso, os métodos contraceptivos não são 100% eficazes e sempre há o risco de engravidar. No Brasil, interromper uma gravidez indesejada é crime.
A criminalização do aborto faz com que essa seja uma das maiores causas de morte materna, resultando na morte de uma brasileira a cada dois dias vítima das condições precárias e inseguras de abortamento clandestino. E mesmo sendo realizados 1milhão de abortos todos os anos no país, resultando em um verdadeiro problema de saúde pública com 250mil internações ao ano para tratar complicações decorrentes de abortos mal feitos, a perspectiva é de piora. Se depender da vontade dos governantes e do congresso nacional, teremos uma legislação ainda mais restritiva nesse tema.
As mulheres fazem aborto, sendo legal ou não, porque sempre existirão gravidezes indesejadas. A criminalização só é eficiente para torná-lo inseguro e pôr a vida das mulheres em risco. Para garantir que as mulheres tenham direito de escolha, é necessário a descriminalização e a legalização do aborto no Brasil. Isso deve vir juntamente com uma política de educação sexual  para orientar sobre nossos corpos e como evitar uma gravidez, bem como o acesso a consultas ginecologias e a métodos contraceptivos de forma gratuita e sem burocracia.
Nos cobram que devemos ser mães mas não nos dão condições de sermos.
Para as mulheres que optam serem mães, o cenário é de uma verdadeira batalha individual contra o mundo enfrentando inúmeras dificuldades para criar e educar o filho em um país que não nos oferece condições de exercer a maternidade de forma plena. A maternidade é tratada como responsabilidade única e exclusiva da mulher e quando algo dá errado, somos culpabilizadas e punidas socialmente. Para muitas mulheres a gravidez também acaba sendo um processo solitário pois não são raras as situações onde somos abandonadas pelos nossos parceiros ao descobrirem que estamos grávidas.
Um outro exemplo infelizmente ainda muito comum dessa concepção são as violências sofridas pelas mulheres ao longo da gestação e durante o parto, a violência obstétrica. São inúmeros relatos de tratamento desumanizado que se expressa através de grosserias e frases ofensivas, maus tratos e realização de procedimentos médicos sem a autorização da mulher, como é o caso da episiotomia de rotina e a aplicação de ocitocina artificial. É como se devêssemos sofrer ou pagar por termos feito algo errado Não a toa uma das frases mais ouvidas por vítimas de violência obstétrica é a “na hora de fazer não doeu. Na hora de fazer não gritou”. Passar por situações como essa em um momento tão delicado como é o parto impacta muito e negativamente a vida das mulheres.
Depois de nascidos os nossos filhos, começa a preocupação sobre a  licença maternidade e o retorno ao  empregos. Para muitas mulheres trabalhadoras esse é um verdadeiro pesadelo pois não nos é garantido o direito à estabilidade no emprego quando engravidamos. E se para as mulheres a licença maternidade é de no máximo seis meses, o que já é muito pouco, para os homens ela é de apenas cinco dias. O            que na prática só reforça a ideia de que cuidar do bebê é uma responsabilidade feminina, da mãe.
Também é uma grande preocupação para as mulheres a creche para seus filhos. Na maioria das cidades brasileiras faltam creches públicas e escolas de educação infantil, o que prejudica muito as mulheres trabalhadoras pois sem creches é muito difícil trabalhar ou estudar. No Brasil são aproximadamente 10 milhões de crianças foras das creches. Muitas dessas milhões de mães brasileiras, diante da falta de vagas nas creches, acabam recorrendo a familiares ou pagam pessoas para cuidar das crianças de forma que assim elas possam trabalhar.
Quando não conseguem alguém para cuidar dos filhos, não há outra saída: abandonam o trabalho e o estudo. Isso além de atingir diretamente o sustento das famílias, acaba inevitavelmente aumentando a dependência e a vulnerabilidade dessas mulheres. Sem ter emprego, uma forma de sustento que garanta a independência financeira, muitas mulheres acabam inclusive não conseguindo sair de relacionamentos abusivos pois não teriam como sustentar a si e a seus filhos.  
Os governos não garantem políticas públicas eficientes para que tenhamos garantido o direito de ser mãe, caso o desejemos. Faltam trabalhos dignos e também estabilidade no emprego quando engravidamos. O custo de vida é muito alto e os salários são baixos, dificultando muito o sustento de uma família. Faltam creches e escolas para os filhos e filhas dos trabalhadores, obrigando as mulheres a abandonarem o trabalho e o estudo para cuidar dos filhos. Faltam moradias para vivermos com nossas famílias.  Nossos filhos morrem nas filas dos hospitais pela falta de vagas ou pelas mãos da polícia nas periferias do país.
Ser mãe deve ser “padecer” no paraíso?
Acreditamos que as escolhas das mulheres devem ser livres e respeitadas. A maternidade não deve ser um projeto de vida obrigatório para as mulheres. Uma mulher que escolha não ser mãe não deve ser condenada. Assim como não deve ser condenada uma mulher que escolha ser mãe.
Não podemos permitir que mulheres sofram por suas escolhas. E lutamos para que ser mãe não seja ter que padecer em lugar nenhum. E mudar essa realidade só é possível com organização e luta das mulheres trabalhadoras pelo fim do machismo e contra o capitalismo. Esse sistema nunca dará para nós as condições para exercermos as nossas escolhas de forma plena e livre pois lucra com o machismo que nos faz sofrer.








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